Olhares escandalizados,
Sussurros de boca em boca,
Gestos bruscos, encolerizados,
Num uníssono: é louca !!!
Mas a naturalidade é tão grande,
Seu andar é etéreo, flutuante,
No sorriso, a felicidade se expande
Numa áurea de amor, tão brilhante...
Seus pés mal tocam o chão da rua,
Seus cabelos esvoaçastes, seu olhar claro,
Aquela silhueta caminhando toda nua.
Vê-se nela um ser completo, tão raro!
Uma sirene vem gritando sua desaprovação;
Mãos que a apertam e seguram com firmeza,
Numa camisa de força, aquele corpo então,
mas no olhar, o mesmo brilho de pureza!
Gritos, ovações, blasfêmias e impropérios
Pedras atiradas, rancores, obscenidades.
É como uma peste invadindo impérios
Tudo é revestido de tantas maldades
a sirene torna a gritar. Desta vez, de vitória,
E aos poucos, o povo vai se diluindo
Cada qual levará para alguém uma história...
E a sirene seu caminho vai seguindo...
Uma freada e a descida brusca.
Ódio nas vozes, tantas indagações.
No olhar uma luz se ofusca
E alguém lhe pergunta cheia de atenções:
- "porque estavas assim na rua,
Causando susto - espalhando desejos?"
E a resposta vem sem pelos:
- "eu não estive jamais nua, estava toda coberta de beijos!!!
Sinto-me desde as pontas dos pés envolta
Num manto bonito, ondulado pelo vento
Daí eu andar tão tranquila e tão solta,
Vivendo com êxtase de amor, um momento.
Dele,- seus beijos leves, meus pés cobriam,
Eram cheio de amor e ternura;
Por minhas pernas, devagar eles subiam
E aos usos me tornei etérea criatura!
E a peregrinação continuou incansável
Meu corpo ia sendo de beijos forrado
Seu olhar, como seus lábios sempre amável
Me tornando da terra, o ser mais amado.
No âmago de meu desejo, um beijo cálido
A umidade provocada tão naturalmente,
No meu ventre, beijos de um rosto pálido,
Nos meus seios, um monte de beijos envolvente.
Meus braços, minhas mãos e meus dedos
Receberam toda a caricia querida...
Tão longe estavam os meus medos!
Ele me é a pessoa a Deus pedida.
Por meus cabelos escorriam devagar
Beijos demorados, tranquilos, serenos
Em meus olhos ele foi depositar
Dois beijos amigos, suaves tão amenos.
O último beijo em minha boca depositado,
Vestiu-me toda, cobriu minha nudez:
Um beijo molhado, demorado
Completou meu vestuário de má vez.
Saí de casa porta a fora
Querendo exibir o esplendor
Assim vestida eu levava embora
O modelo único, feito de beijos de amor»
E eu pergunto inocente:
"como alguém poderia me achar indecente,
Se o manto que me, cobria era de amor?
Porque eu espalharia susto e desejos
Andando, como disseste, pela rua
Se estava eu coberta de beijos
E por isso não me sentia jamais nua?!"
Beijo de Algodão
